Uso dos tempos verbais

Há uma distinção fundamental entre duas entidades descritas pelos verbos e português: os acontecimentos, e os estados. Os acontecimentos acontecem num tempo e num lugar determinado, ao contrário dos estados. Veja-se a esse respeito a secção sobre classificacção aspectual, mais adiante.


O Presente do indicativo

O Presente usa-se normalmente para propriedades (estados) presentes:

Está calor.

Ela é simpática.

Gosto muito de teatro.

Quando usado com acontecimentos designa um hábito ou regra (ou um futuro próximo, como veremos depois).

Como muito ao jantar.

Não bebes muito vinho.

Ela dança no Bolshoi, e ele escreve.

Quando tenho calor tomo banho na piscina.

Quem canta seus males espanta. (provérbio)

Aos sábados dou um passeio pela cidade.

Se se quiser afirmar que um acontecimento está a acontecer no momento presente, TEM de se usar a forma progressiva:

Estou a comer uma maçã e não Como uma maçã.

O que é que estás a fazer? e não O que é que fazes?

O presente pode referir acontecimentos futuros, desde que seja bem definida a sua ocorrência (ou seja, haja uma previsão não só da ocorrência, mas também da altura em que o acontecimento se dará).

Hoje dou aula às 3.

O avião chega às 9.

O filme é às 8.

Esta noite o Presidente fala na televisão.

Vou para Itália em Dezembro.

Quando receber o dinheiro, compro uma televisão.

Logo que chegares, faço o jantar.

Em alguns casos, uma frase no presente é vaga entre uma regra e um caso (futuro) único:

Quando é que almoças?

Aonde vais nas férias?

O comboio chega às 6.

Dou aula às 10.

O presente é usado em português para especificar um período passado que inclui o presente (ao contrário do inglês ou do norueguês):

Estou em Oslo desde Janeiro.

Ele é professor há vários anos.

O João toca viola desde os 10.

Estou à espera há dois dias.

O presente é também usado para fazer actos de fala (na 1.a pessoa do singular):

Prometo

Baptizo-te

Juro

Por outro lado, em reportagens desportivas, ao contar anedotas, e em livros de História antigos usa-se o chamado presente histórico:

Entra um homem num bar e pergunta: etc...

Toninho passa para Peixe, Peixe para Zézé, este centra e goooooooooooolo!

Júlio César entra na Gália, vence os gauleses chefiados por Vercingetórix e chega às Ilhas Britânicas no princípio do Verão

Imperfeito vs. Perfeito

O Imperfeito (pretérito imperfeito do indicativo) comporta-se em muitas coisas exactamente como o Presente, daí ser chamado "o presente no passado".

No passado, o tempo normal para descrever um acontecimento ou acção é o Perfeito (pretérito perfeito do indicativo). O Perfeito localiza um acontecimento no passado, num dado tempo ou lugar, e afirma-o como um todo (isto é, implica que, se o acontecimento tiver duração, que ele já ocorreu todo).

O bebé caiu.

Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil.

Cheguei ontem.

O João deu o livro à Joana.

O Luís pintou a casa toda.

A Maria teceu esta tapeçaria.

A expressão do Perfeito é independente do acontecimento ser mencionado devido à relevância para o momento presente, ou como um facto totalmente passado:

Levaram o retroprojector para arranjar. (relevância para o presente: não está aqui)

D. Dinis mandou semear o pinhal de Leiria. (sem relevância para o presente)

Por outro lado, para descrever um estado ou propriedade no passado o Imperfeito é o tempo natural:

Os dinossauros eram répteis.

Luís de Camões era português.

O João gostava de vinho.

A Bastilha era no centro de Paris.

No século XVII, as pessoas apreciavam as mulheres gordas.

Mas usa-se o Imperfeito com acontecimentos nos seguintes casos:

  1. para descrever um hábito, uma acção habitual, uma propriedade

    A Manuela cantava ópera / vendia pronto-a-vestir numa loja da Baixa.

    O João tomava banho à noite.

    A Maria comia ovos mexidos ao pequeno almoço.

    O Ricardo ia a pé para o trabalho.

    Os intelectuais lisboetas reuniam-se no Nicola.

    tal qual o Presente.

  2. para descrever acções vistas sob a perspectiva de uma personagem (o chamado discurso indirecto livre)

    A Maria olhou pela janela: As crianças saíam.

    O João afastou-se. O Pedro não lhe dava o livro. O que havia de fazer?

  3. em certos contextos marcados (orações subordinadas envolvendo um tempo Perfeito na oração principal, ou orações quando no Perfeito), o Imperfeito pode ser usado para descrever uma acção que é simultânea com outra no Perfeito, sendo a do Imperfeito mais alargada:

    Quando chegava a casa, viu a Rosa a sair.

    Quando entrou na loja, a dona abria as persianas.

    Dirigiu-se a correr para a porta que via lá ao fundo.

    A rapariga que sorria estendeu-lhe a mão.

    Virou-se para a mãe, que se levantava.

    Enquanto ela lavava a roupa, os ladrões levaram a televisão.

    De notar que este uso do Imperfeito é restrito a estes contextos específicos. Em frases principais, a forma progressiva tem de ser usada:

    A Joana estava a lavar a loiça. De repente, o Pedro entrou na cozinha.

    Mesmo em alguns dos contextos acima a progressiva é preferível:

    Quando a campainha tocou, a Maria estava a ler o jornal.

    Enquanto ela estava a ler o jornal, o bebé comeu os bolos todos da lata.

Por outro lado, quando o Perfeito é usado com estados ou propriedades, o que é uma situação marcada, pode ter uma das duas interpretações seguintes:

  1. refere-se a um período necessariamente acabado,
    1. quer por essa entidade ser um acontecimento (definido e localizado no passado):

      A festa foi muito divertida.

      O caso foi muito falado.

      Ele odiou a tropa.

      Nós gostámos do filme.

      A Paula teve umas férias muito chatas.

    2. quer por esse estado/propriedade já não se verificar

      Ele gostou dela (quando andava na faculdade) (mas agora já não gosta)

      Ele admirou Nero (mas agora já não admira)

      Ele soube tocar piano (mas agora já não sabe)

      Ele foi socialista (mas agora já não é)

      Ela esteve em Paris (mas agora já não está)

    3. quer por a entidade referida já ter desaparecido,

      O meu pai foi um homem honesto.

      D. Pedro V foi o melhor rei de Portugal.

      De notar que este caso pode ser visto como representando a vida como um acontecimento definido no tempo e já acabado.

      De facto, o Perfeito apenas indica que o estado referido já acabou. Assim,

      O meu tio foi professor na Universidade de Coimbra.

      pode ser usado por o meu tio já ter morrido, ou por ele ser, neste momento, professor noutra Universidade (ou simplesmente reformado).

  2. Outro uso, distinto, do Perfeito com estados (só com o verbo ser, associado a propriedades que possam corresponder a uma avaliação), indica que essa propriedade se refere à actuação da pessoa num dado acontecimento (definido pelo contexto), e não à pessoa em si:

    Ele foi simpático (por ter feito isso, nessa ocasião)

    Ele foi muito antipático comigo (nessa altura)

    Ele foi bondoso (ao ter cedido o lugar)

    Ele foi muito bem educado, eu teria respondido!

    Ele foi um amor, ele foi um palerma, ele foi um bruto, etc.

Casos de contraste puro Perfeito/Imperfeito

Há um tipo especial de verbos em português que, conforme usados no Perfeito ou no Imperfeito, significam coisas diferentes: saber, perceber, conhecer, lembrar, calar

No Imperfeito descrevem um estado, no Perfeito uma acção que leva a esse estado:

Eu sabia que ela não tinha pago / Eu soube que ela não tinha pago

Ela percebia que ele não gostava dela / Ela percebeu que ele não gostava dela

Ele conhecia o Jorge / Ele conheceu o Jorge (na festa)

Eu lembrava-me dele / Eu lembrei-me dele

Ela calava-se (não dizia nada)/ Ela calou-se (parou de falar)

Por outro lado, alguns verbos de movimento têm uma interpretação de posição no Imperfeito:

O comboio chegou à estação. vs. O cabelo chegava-lhe aos ombros

A criança chegava apenas à prateleira mais baixa

O filho mal chegava ao peito do pai.

A água chegava-me ao pescoço.

O homem subiu as escadas. vs. O caminho subia pela montanha.

A escada subia ao sótão.

Descemos a correr. vs. Um atalho descia até ao fiorde.

Eu fui de Londres a Edimburgo a pé. vs. A estrada ia de Londres a Edimburgo.

Tu correste até casa. vs. O rio corria até à foz.

A senhora entrou em casa. vs. A estrada entrava pela floresta.

Saíste à pressa. vs. A linha de caminho de ferro saía pelo lado norte.

O lobo rodeou a presa. vs. Uma linha de árvores rodeava o lago.

A matilha cercou o caçador. vs. Um gradeamento cercava a quinta.

Uso do Perfeito/Imperfeito em orações intercalares se

Certo tipo de orações intercalares é usado para fazer como que um parêntesis no raciocínio, para explicitar uma premissa. O tempo é Imperfeito se essa premissa for do tipo estado:

Parentes, se os tinha, não queriam saber dele

Pessoas honestas, se ali viviam, não tinham hipóteses de viver uma vida folgada.

O homem guardava o dinheiro, se o tinha, num sítio tão inacessível que nem depois de morto o encontraram.

A Maria, se lá estava, não tinha dado sinal dela.

O rapaz não vira o burro, se é que lá estava.

Uma senhora, se senhora se podia chamar, tinha cuspido para o chão.

Ginástica, se a fazia, não se notava.

A tia, se dele gostava, não o mostrava.

Ou Perfeito se se referir a um acontecimento ou a um estado passado:

Parentes, se os teve, já tinham morrido há muito.

O irmão, se o viu, fez que não o conhecia.

Usos apenas do Perfeito

Quando se refere um período definido de tempo (duração), o Perfeito tem de ser usado,

Durante dois meses, estive doente.

Ele foi magistrado quatro anos.

Corri por duas horas.

Dormi doze horas.

mesmo quando se descreve uma actividade habitual nesse período,

Durante três anos, comi um ovo ao pequeno almoço.

Não dormi durante uma semana.

ou uma actividade em progresso (através da progressiva):

Estive a ver o filme a noite inteira.

Quando um número definido de vezes é mencionado, pela mesma razão (só depois de serem feitas se podem contar), o Perfeito é obrigatório.

Comi neste restaurante duas vezes.

Vi o (filme do) "Gandhi" três vezes.

Cem vezes desesperei.

Com a partícula antecedendo-o, o Perfeito passa a significar ter feito num tempo indefinido, ou seja, não interessa quando, e isto tanto para acontecimentos como para estados:

Já estive em Paris.

Já viste "E tudo o vento levou"? (Gone with the wind)

Ela já foi à India.

Já gostei dele (mas agora não gosto...)

Ele já foi camionista.

O mesmo se passa com a negação de , ainda não.

O Pedro ainda não viu a "Música no Coração" (The sound of music)

Ele ainda não foi a Holmenkollen.

Ela ainda não fez o trabalho de casa.

E com o advérbio nunca (outra possível negação de )

Ele nunca fez esqui.

Ela nunca foi à Índia.

O marido nunca lhe disse nada.

Nunca vi um tigre branco.

Ele nunca foi honesto.

O Perfeito é usado em ordens grosseiras (nível de língua popular):

Andou!

Acabou!

Desandou!

Calou!

Além disso, o Perfeito pode exprimir futuro completado antes de um tempo hipotético, substituindo o futuro perfeito (ou composto), mas tem de coocorrer obrigatoriamente com :

Quando acabares o curso já eu acabei o doutoramento. (= terei acabado)

Quando o Pedro for para África, tu já compraste a tua casa. (= terás comprado)

Usos apenas do Imperfeito

O Imperfeito é usado, em analogia com o Presente, para descrever um estado ou propriedade que começa no passado e ainda se verifica ao tempo em que o Imperfeito se refere:

Ele vivia em Londres há dez anos. (havia dez anos, mais correcto do ponto de vista lógico, só se usa na linguagem escrita)

Ele cantava no Scala de Milão desde os dezoito anos

Um processo gradual exprime-se no Imperfeito, quando se refere a várias alturas diferentes

Cada vez entristecia mais.

Mais e mais chegava a casa a altas horas.

Estudava cada vez menos.

Dormia cada vez pior.

enquanto a expressão da gradualidade de um processo único é feita através da perífrase ir + gerúndio:

Ia crescendo em beleza e sabedoria.

O sol ia aquecendo a casa.

Ele ia enchendo o saco conforme falava.

Ela ia morrendo aos poucos.

No discurso indirecto, traduz o presente:

O Rui disse: -- Sou cantor de ópera, vou para o Porto e hei-de casar com uma rapariga rica.

O Rui disse que era cantor de ópera, ia para o Porto e havia de casar com uma rapariga rica.

A Joana perguntou: --Gostas de cinema?

A Joana perguntou se eu gostava de cinema.

Ele afirmou: -- Todos os dias ando três quilómetros a pé.

Ele afirmou que todos os dias andava três quilómetros a pé.

Finalmente, em frases com subordinadas do tipo se + Imperfeito do conjuntivo, o Imperfeito tende a substituir o Condicional em português de Portugal:

Se ganhasse a lotaria, comprava uma casa grande.

Se fosses esperta, estudavas em vez de andares em festas.

Podíamos tomar um banho na piscina se estivesse calor.

Finalmente, o chamado Imperfeito pitoresco, apenas usado na linguagem escrita cuidada, pretende transportar o leitor para uma época passada, e caracteriza-se por juntar uma data a uma frase no Imperfeito.

Em 18XX, Júlio Dinis escrevia "As pupilas do senhor reitor".

Em 1945, as tropas aliadas desembarcavam na Normandia, pondo fim ao pesadelo nazi.

Mais que perfeito

É usado para descrever um acontecimento ocorrido antes de um determinado ponto de referência passado, que é geralmente assinalado por um Perfeito:

Ele deitou fora o bilhete, que tinha comprado na véspera.

O João apresentou-me a rapariga que tinha conhecido na festa.

O Mais que perfeito tem várias propriedades em comum com o Perfeito. Por exemplo, pode ser usado para descrever um estado causado por uma dada acção passada (relevância de um acontecimento passado):

As fotografias tinham caído para baixo da estante.

O cano tinha descaído com a pressão.

o que corresponde respectivamente a

As fotografias estavam (caídas) debaixo da estante

O cano estava mais abaixo.

Assim como com o Perfeito, + Mais que perfeito apenas indica que o acontecimento ocorreu, não interessando quando:

Ele já tinha comprado o bilhete quando ela lhe sugeriu irem ao teatro.

Quando o João finalmente entrou na sala, já todos tinham chegado.

tem contudo uma outra função, que é a de indicar precedência quando há dois Mais que perfeitos envolvidos:

Quando fora para a tropa, já tinha tido vários desgostos.

Sem , a frase anterior refere-se a desgostos durante a tropa, e não antes de ir para a tropa.

O Mais que Perfeito é usado no discurso indirecto para traduzir o Perfeito:

-- Comprei um carro, fui dar um passeio e fiquei deslumbrado.

Ele disse que tinha comprado um carro, tinha ido dar um passeio e tinha ficado deslumbrado.

Mas não para traduzir o Imperfeito:

-- Os meus tios eram comunistas e nunca iam à igreja.

Ele disse que os tios dele eram comunistas e que nunca iam à igreja.

(e não tinham sido comunistas e nunca tinham ido à igreja)

Em geral, quando o Imperfeito é habitual, co-ocorre com o Mais que perfeito (ou seja, não há hábitos mais passados):

Ele tinha-se esquecido dos banhos que o pai tomava ao entardecer.

Ele tinha detestado os camponeses que falavam em revolução.

Compare-se com

Ele tinha detestado os camponeses que se tinham instalado nas suas terras.

em que é um acontecimento que é referido na oração relativa, e por isso deve estar no Mais que perfeito.

Em geral, o Mais que perfeito simples já não se usa na linguagem falada, ainda que possa ser utilizado na linguagem escrita por razões estilísticas (é menos pesado), sobretudo quando vários verbos são utilizados:

Os homens que amara e que a tinham amado...

Quando a vira, tinha-se apercebido de que nada voltaria a ser igual.

Há, no entanto, alguns usos idiossincráticos do Mais que perfeito simples que não podem ser substituídos pelo composto:

Quem me dera ir ao Rio!

Tomara eu que ele olhasse para mim!

Futuro do indicativo e futuro perfeito

O futuro não se usa para acontecimentos futuros cuja data de ocorrência seja previsível, caso em que se usa o Presente,

Passo por tua casa esta noite.

nem para aqueles que correspondem a uma promessa ou desejo cuja data é indefinida:

Hei-de convidar-te para cá vires jantar.

Tu hás-de ser reconhecido como um grande poeta.

Igualmente, acontecimentos ou estados futuros considerados prováveis são expressos pela perífrase ir no presente mais o verbo no infinitivo:

Vou comprar um carro desportivo.

O Benfica vai remodelar a sede.

O novo aeroporto de Oslo vai ser em Gardemoen.

A Manuela vai ter outro bebé no Verão.

Quando me deres o livro, vou lê-lo de uma ponta à outra.

Assim, o futuro do indicativo em português só tem os seguintes usos

  1. quando é expresso com quantificação, ou seja, quando se refere a mais do que uma ocasião futura:

    Nada te faltará

    O rei nunca será esquecido

    Terás sempre a impressão de ter perdido alguma coisa.

    Nunca perceberás porque ele te deixou.

    Não chegará a matar, mas estará lá perto muitas vezes.

    Farei tudo o que for preciso.

  2. quando exprime uma dúvida sobre o futuro

    Terá cura?

    Choverá?

    Não sei se fará o que prometeu.

    Se fará ou não, só o futuro o dirá.

    Conseguiremos manter a promessa?

  3. Pode exprimir uma dúvida também sobre o presente:

    Será que os vizinhos foram de férias?

    Será que o João está doente? ou Estará o João doente?

    Será possível?

Para exprimir dúvida sobre o passado, usa-se o futuro perfeito:

Terão chegado já?

Terá sido o Gustavo o responsável por esta balbúrdia?

Lembras-te se terás contado à tua irmã?

O futuro perfeito também se usa para exprimir um tempo futuro anterior a outro tempo também futuro:

O Miguel vai para a tropa em 1996. Nessa altura já terá feito o 12º ano.

Até que chegues, a criança terá tido tempo para fazer muitos disparates.

Quando acabares o curso, terás tido muitas ofertas de emprego./terás aprendido mais do que pensas.

embora esteja a ser substituído pelo Perfeito com na linguagem falada.

Quando lá chegares, já eu comi a sopa.

Condicional

O tempo/modo condicional é empregue em três tipos de contextos:

  1. O Condicional pode representar um futuro alternativo no passado:

    Quando o conheci em 1990, ele disse-me que partiria um dia para terras de África e que não voltaria.

  2. Ou um contexto hipotético, não real, no presente

    Tu não resistirias a um tal choque.

    A Joana nunca faria uma coisa dessas.

    ou no futuro

    Se a Rita visse isso, ficaria demasiado perturbada para reagir.

    Se ganhasse a lotaria, compraria uma quinta.

    Neste caso, ou seja, no contexto "frase principal com uma subordinada se no Imperfeito do Conjuntivo", o Condicional tende a ser substituído pelo Imperfeito em português de Portugal.

  3. Por outro lado, o Condicional é empregue para exprimir incerteza numa afirmação, ou seja, para indicar que o falante não responde pela verdade da sua afirmação.

    Teria aí uns trinta anos

    Eu diria que ele estava bêbado.

    Dir-se-ia que a casa tremia toda.

Finalmente, o Condicional usa-se no discurso indirecto para exprimir o Futuro:

--Nada te faltará

Ele afiançou-lhe que nada lhe faltaria.

--Ter-se-á esquecido do que combinámos?

Ela interrogou-se sobre se ele se teria esquecido do que tinham combinado.

Em consequência, é também usado no discurso indirecto livre com essa função:

O José parou. Seria possível? Teria ela feito mesmo aquilo de que o Pedro a acusava?

A Rita sorriu. Conseguiria manter a promessa? Era tâo frágil, pensou o João.

O Condicional composto apenas difere do Condicional por pressupor um tempo passado

  • sobre o qual se indica um futuro,

    Quando tivesses ido à tropa, já terias sido roubado de tudo.

  • ao qual se refere o contexto hipotético

    Se tivesses feito o que te disse, terias ganho uma fortuna.

    Aqui não te teriam enganado!

  • sobre o qual se exprime incerteza

    Teria escrito alguns livros, dizia-se.

    Teríamos bebido e dito coisas que não devíamos.

Pretérito perfeito composto do indicativo (PPC)

Este tempo designa um intervalo até agora, e indica um estado temporário nesse período,

O João tem estado doente.

A Maria tem estado abatida.

Este ano o tempo tem estado maravilhoso.

ou a repetição de um acontecimento nesse período

Tenho comprado muitos livros.

Nesta última semana temos posto a conversa em dia.

Neste século temos sofrido uma data de reveses.

Neste milénio a humanidade tem progredido de uma forma espantosa.

Toda a minha vida tenho tido muitas arrelias com a polícia

Quando uma frase no PPC não contém um advérbio de tempo, pode juntar-se o advérbio ultimamente sem mudar o sentido:

Tenho andado cansada (ultimamente).

O merceeiro tem vendido pouco (ultimamente).

Nâo é possível usar advérbios que contradigam a noção de "intervalo até agora", tais como: o ano passado, ontem, há dois anos, ou datas passadas. Por exemplo,

Em 1976 tenho feito muitas compras

só é possível ainda em 1976.

Tempos do conjuntivo

Os tempos do conjuntivo (subjuntivo, em português brasileiro) são empregues para descrever uma acção/situação fora do plano real. Assim, o presente do conjuntivo pressupõe uma avaliação/acção associada à situação descrita nesse tempo; o futuro do conjuntivo representa uma acção ainda sem realização específica (sem localização temporal determinada, ou com um actor genérico, etc.); e o imperfeito do conjuntivo descreve essa acção como uma hipótese contrária aos factos, além de ser, primordialmente, a versão passada tanto do futuro como do presente do conjuntivo.

Os tempos compostos, por outro lado, apenas adicionam ao sentido do tempo simples a informação de que a acção/situação é encarada como passada, ou seja, já completada, e não introduzem pois nenhum elemento adicional de sentido.

É importante salientar que, ao contrário de outras línguas, os tempos do conjuntivo não apresentam sinais de desaparecimento em português.

Futuro do conjuntivo

Este tempo usa-se apenas em dois tipos de contextos:

  1. em orações iniciadas por se, em que se põe a hipótese da acção descrita por esse tempo vir a ocorrer

    Se vieres a Lisboa, vem cá ter a casa.

    Eu pago-lhe o almoço se ele quiser.

    Se ganhar a lotaria, compro uma vivenda no Restelo.

  2. em frases iniciadas por quando, quem, o que, como, etc., em que descreve uma acção genérica, ou melhor, uma acção em que uma dada característica (a descrita por essa palavra) ainda não foi fixada (ver também acima)

    Quando vieres a Lisboa telefona-me.

    Quem puder ler o artigo, por favor fale comigo.

    Arranja-te como quiseres.

    Faz o que entenderes.

    Dentro deste grupo, destacam-se também alguns tipos de subordinadas temporais (cujo significado está relacionado com quando):

    Logo que puderes, telefona-me.

    Enquanto estiveres em Cuba, não precisas de cá vir.

    Enquanto não fores a Bergen, não sabes do que estás a falar.

    Assim que fizer este embrulho, vou para aí.

Presente do conjuntivo

O uso mais frequente do presente do conjuntivo é o de afirmar uma dada atitude do falante perante a situação descrita nesse tempo, quer seja de dúvida, de desejo ou de mera atribuição de uma probabilidade, até à indicação de uma postura determinada quanto à acção.

Como tal, é frequentemente utilizado em orações dependentes de verbos ou expressões com esse significado, que pode ser, para efeitos de generalização, divididas em (as frases marcadas com asterisco indicam que o modo indicativo também é possível):

  • expressão de crença/descrença

    Duvido que o Pedro venha.

    Acredito que o Partido saia reforçado deste congresso.*

    Suponho que estejas cansado.*

    Imagino que não te lembres de mim.

  • expressão de desejo/receio

    Espero que o livro seja um sucesso.

    Receio que esse movimento traga consequências graves.

    Tenho medo que este depoimento perturbe a campanha.

    Temo que não apareça.

    Desejo que tenhas uma vida muito feliz.

  • expressão de afirmação (acto de fala)

    Insisto para que faças o que prometeste.

    Nego que o tenha feito alguma vez.*

    Sugiro que ponha o lugar à disposição.

    Proponho que a comissão se reúna.

    Peço que me dispense amanhã.

    Não digo que não o conheça.*

  • expressão de avaliação (quer sobre a veracidade da oração no conjuntivo, quer sobre os seus resultados)

    Pode ser que o rapaz não esteja a mentir.

    É possível que ele entregue o artigo a tempo.

    É (pouco) provável que este livro desencadeie grande oposição.

    É bom que ele seja tão aplicado.

    É mau que os portugueses não votem.

    É uma maravilha que as crianças aprendam uma língua sem dificuldade.

Exemplos dos mesmos verbos (marcados com asterisco) seguidos de orações no indicativo

Acredito que ele é honesto.

Não nego que ele trabalha bem.

Suponho que és comunista.

Também em orações dependentes de nomes aparecem associados estes valores:

A proposta de que se construa uma nova ponte foi rejeitada.

O receio de que ele esteja doente amargura-lhes a vida.

O medo de que o furacão chegue à cidade levou já vários habitantes a fugir para o campo.

A sugestão de que se faça um livro de actas colheu grande apoio.

A esperança de que esta medida melhore significativamente as condições no país levou a uma grande receptividade por parte dos cidadãos.

É também comum omitir o verbo principal (e por vezes o que) em alguns contextos mais fixos, como é o das exclamações, desejos e ordens:

(desejo que) Viva Portugal!

(desejo que) O diabo seja cego, surdo e mudo!

(espero) Que lhe faça bom proveito!

(espero) Que lhe sirva de lição!

Se baterem à porta, (diga-lhes) que entrem.

(ordeno que) Entre!

(recomendo que) Não te esqueças do casaco.

(sugiro que) Coma mais um bolinho!

(desejo) Que o leve o diabo!

De facto, a expressão das ordens (o modo imperativo) foi quase totalmente substituído, formalmente, pelo presente do conjuntivo. Assim, ordens negativas exprimem-se sempre no conjuntivo, e as afirmativas só na segunda pessoa do singular usam o imperativo:

Não entres!

Não corra!

Saia!

Vejamos!
Ouçam!

Dois advérbios em posição pré-verbal também requerem o conjuntivo: talvez, e oxalá. Note-se que funcionam, em termos de sentido, como expressão de desejo (oxalá) e de avaliação quanto à veracidade do enunciado (talvez).

Oxalá venha depressa!

Oxalá que consigam fazer o que querem!

Ele talvez não tenha sido convidado.

Talvez queira um cigarro.

Em relação a talvez, note-se que existem alguns casos marginais em que é usado em posição pós-verbal, com o verbo portanto no indicativo, nesse caso apenas se reportando ao sintagma imediatamente a seguir:

Ele é talvez o melhor romancista do século XX.

Este hipopótamo come talvez dez quilos de forragem por dia.

Muitas conjunções em orações subordinadas também pedem o presente do conjuntivo, quando a oração principal se reporta ao presente ou futuro:

Quer chova quer faça sol, lá está ele de plantão de madrugada.

Embora seja convidado, não é tratado como os outros.

Mesmo que venha, já não chegará a tempo para ouvir o discurso.

Por mais que faça, chega sempre atrasado.

A não ser que se veja livre dela, não sei como a poderá esconder.

Contanto que faça os deveres, deixo-o sair.

Caso perca o passe, pode sempre comprar um bilhete.

Logo que ele entre, não o deixo escapar-se.

A fim de que o João não me ouça, trouxe-te para aqui.

Faço isto tudo para que não te queixes mais tarde de que não te ouvi.

Isto vai ser uma desgraça, a menos que o tal artista apareça.

Fica aqui até que a aurora desponte.

Desde que coma o bife, tem direito a sobremesa. (=a condição mínima para comer a sobremesa é ter comido o bife)

Antes que te arrependas, pára com isso! (= pára com isso para que não te arrependas)

Existem alguns casos de orações subordinadas sem conjunção, correspondendo a quer ... quer

Faça sol ou chuva, ele percorre o país de lés a lés.

Venha o rei ou a sua comitiva, não conseguem demovê-lo.

ou especificamente indicando várias hipóteses (através de uma oração com futuro do conjuntivo):

Venha quem vier, faço o discurso.

Faça-se o que se fizer, acontece sempre a mesma coisa.

Aqui em Oslo ela não conhece seja quem for que a possa ajudar nesse assunto.

Em orações relativas, o presente do conjuntivo indica uma dada propriedade sobre a qual não há ainda instância (caso particular):

Procuro uma secretária que saiba alemão.

Quero um prato que não tenha muito sal.

Não mora aqui ninguém que eu conheça.

A quem prometa mundos e fundos não se pode entregar o governo.

Por outro lado, o presente do conjuntivo é usado em expressões objecto de verbos indicando existência, expressões essas indefinidas devido ao pronome quem.

Há quem diga que a casa está assombrada.

Não falta quem goste de apoucar os outros.

Finalmente, em linguagem popular usa-se a expressão eu seja "qq coisa má" se para indicar de forma extrema que a frase seguinte é verdadeira:

Eu seja ceguinho se estou a mentir. (= Não estou a mentir)

Eu seja desgraçada se ele não me mostrou a criança. (= Ele mostrou-me a criança)

Futuro do conjuntivo vs. presente do conjuntivo em orações relativas

A distinção entre o futuro do conjuntivo e o presente do conjuntivo em orações relativas é semelhante àquela que opõe "uma pessoa qualquer" a "qualquer pessoa". Com efeito, uma oração relativa no presente do conjuntivo descreve uma pessoa qualquer com uma dada propriedade, mas apenas uma, enquanto que no futuro do conjuntivo descreve qualquer pessoa com essa propriedade:

Uma secretária que souber alemão arranja emprego facilmente.

Um prato que tiver muito sal é desagradável ao cliente.

Uma educadora que puder tratar desse problema será bem vinda.

Donde, em termos de implicação em termos de valores de verdade, uma dada frase no futuro do conjuntivo implica a correspondente no presente do conjuntivo (FC => PC). O que não quer dizer que seja substituível (ou aceitável) em todos os contextos.

Imperfeito do conjuntivo

Este tempo usa-se em dois contextos distintos:

  1. Como passado tanto do presente do conjuntivo como do futuro do conjuntivo, o que é flagrante no discurso indirecto, mas que é válido sempre que nos encontramos numa situação transposta do presente para o passado:

    Disse-lhe que quando viesse a Lisboa me telefonasse.

    Ordenei-lhe que entrasse.

    Redargui-lhe que enquanto não fosse a Bergen, não sabia do que estava a falar.

    Pedi-lhe que me telefonasse logo que pudesse.

    Fizesse sol ou chuva, estava sempre cedo na loja.

    Contanto fizesse os deveres, ela deixava-o sair.

    Ela negou que ele lhe tivesse pedido alguma vez para sair.

    Ela esperava que ele se retirasse antes que deitasse tudo a perder.

    Havia quem dissesse que a casa estava assombrada.

    Um caso típico do imperfeito do conjuntivo como "passado do presente do conjuntivo" são as recriminações, ou "ordens passadas", próprias da linguagem oral:

    Estudasses!

    Fizesses o que te mandei e nada disto tinha acontecido!

    Não tivesses deixado tudo para a última hora!

  2. Em orações se, o imperfeito do conjuntivo contrasta com o futuro do conjuntivo porque indica que a acção não só é puramente hipotética mas é irreal (contrária à realidade)

    Se pudesse ter filhos, teria tido uma vida diferente.

    Se ele casasse com a Margarida, seria muito mais feliz.

    Ele comprava um Mercedes se pudesse.

    Se o Manuel fosse mais sensato, nada disto lhe acontecia.

    Pode-se talvez analisar este caso também como o passado do se + futuro do conjuntivo, mas esse passado traduz-se em irrealidade que pode ser projectada para o futuro:

    Se fosse rica, não trabalharia.

    Se ele tivesse estudado, não estaria agora na miséria.

    Se ele tivesse estudado, não teria chumbado vergonhosamente.

  3. É obrigatório no contexto como se

    Ele anda como se tivesse o rei na barriga

    Elas comportam-se como se ele simplesmente não estivesse na sala

  4. É usado para descrever uma acção passada sobre a qual se fala no presente

    Duvido que ele dissesse tal coisa

    Tenho pena que ele fizesse isso

Conjuntivo vs. indicativo

Alguns verbos usam o conjuntivo quando negados, mas o indicativo se não negados: achar, acreditar, crer, pensar, ter a certeza.

Não acho que este vinho seja mau, mas acho que o outro é bem melhor.

Não acredito que o João seja assim. Acredito que ele é honesto.

Não creio que esteja errado. Creio que são três horas.

Não penso que ele seja mau de todo, mas penso que a sua companhia te é prejudicial.

Não tenho a certeza de que não haja políticos honestos, mas tenho a certeza de que são poucos.

O modo infinitivo

Há muitas orações infinitivas em português, que se podem dividir em três grupos:

  1. as que representam um facto de percepção, dependentes portanto de um verbo de percepção: ver, ouvir ou sentir.

    Eu vi o grupo aproximar-se e olhar para ela.

    Eu ouvi os remos baterem no fundo do barco.

    Ela sentiu o mar subir e descer.

  2. as que são pedidas por preposições:

    a, de, por, para, com, sem, ao invés de

    Dispus-me a visitá-la.

    Gostei de a ver.

    Cansámo-nos de ver esse filme.

    contentavas-te com dormir ao relento?

    Peço desculpa por ter trazido tanta complicação.

    Os meus sobrinhos estavam ansiosos por te rever.

  3. as que são pedidas por conjunções:

    Esta obra foi pensada para despertar emoções fortes.

    Ele dava tudo sem pensar em mais nada!

    Ao invés de discutir o assunto como uma pessoa civilizada, ele amua.

    Era melhor trabalhares em vez de te lamentar!

    A fim de preparar o próximo ano lectivo, os professores reuniram-se.

    no qual se incluem as orações temporais

    Ao vê-la, ele assustou-se.

    Depois de a encontrar, nunca mais foi o mesmo.

    Antes de ir para a Universidade, o Marco era um rapaz tímido.

Contextos sintácticos do infinitivo

Tipos de contextos em que o infinitivo aparece em português:
  1. Infinitivo como sintagma nominal
    • como sujeito

      É bom descansares um bocado antes de saires

    • como objecto

      sugiro repetires o exercício

    • como predicativo do sujeito
    • a melhor maneira é fecharmos a porta à chave

  2. Infinitivo substantivado

    foi o ela fazer isso que me chocou

  3. Infinitivo em perífrases verbais (com ou sem preposição)

    começámos a correr

    deixaste de fumar

    pudemos cantar

    insisto em falar

    ansiavam por estar sós

  4. Infinitivo em orações subordinadas (regido por conjunções)

    apesar de seres membro, tens de pagar

    por gostares de música, dou-te este livro.

    para cantares melhor tens de te exercitar.

    antes de entrarmos, o João tinha preparado a audiência.

    faço ballet além de jogar andebol.

    ao entrar, prendi o casaco num prego.

  5. Infinitivo adverbial

    a assobiar de contente, entrei em casa

    ela saiu de lágrimas a correrem-lhe pela cara abaixo

    os olhos dela fitavam-me como a pedirem ajuda

    o velho olhou para mim com os bigodes a tremer

  6. Infinitivo causal

    de tanto correr, caiu no chão

    ficas rouca de tanto gritar

  7. Infinitivo adjectival (= que está...)

    a rapariga a tossir é minha irmã

    O disco a tocar foi-me dado pelo meu pai.

    Este bule tem água a ferver.

  8. Infinitivo como objecto de verbos de percepção

    eu vi a rapariga a lavar a escada

    eu vi a rapariga lavar a escada

    senti as formigas subirem-me pela perna acima

    lembras-te de tomarmos banho no lago e imaginarmos que éramos focas?

  9. Infinitivo como objecto de verbos declarativos

    descobriu-se terem as formigas invadido o sótão (= que as formigas invadiram)

    imaginava serem os marcianos criaturas esquálidas e apáticas (=que os marcianos eram)

    pensei darmos uma festa no bosque (=que podíamos dar)

    afirma-se gostarem as crianças desse tipo de livros, embora ... (=que as crianças gostam)

    sugiro escaparmo-nos o mais depressa possível (= que nos escapemos)

    espero terem dinheiro suficiente para isso (= que tenham )

  10. Infinitivo em perguntas rebarbativas ou exclamações:

    Tu a dares aulas de inglês? Deixa-me rir!

    Ele, de uma ignorância incrível! E tu a ouvi-lo!

  11. Infinitivo regido por nomes

    tens o direito de te sentires ofendido

    a necessidade de termos isto pronto a tempo fez-nos fazer muitas "directas"!

    tenho esperança de conseguir este emprego.

    não dás mostras de estares muito contente!

    a mania de dares com a língua nos dentes ia-te custando a vida!

    os que tiveram a ousadia de o desafiar pagaram-no caro.

    o facto de aqueles carros estarem estacionados em contra-mão constituiu durante muito tempo um quebra-cabeças para a polícia

    a relutância dele em dizer a verdade ficou então explicada

    o motivo para ser preso nunca veio a lume

    não há razão para temermos represálias

  12. Infinitivo regido por adjectivos

    há poucos jovens interessados em seguir o sacerdócio

    os vários inquilinos são unânimes em condená-lo

    estou alegre por voltarmos

    estavam todos mortos por se deitar

  13. Infinitivo com "elevação do objecto"

    estes livros são fáceis de ler

    estas botas são muito boas de calçar

    este manuscrito é impossível de decifrar

  14. Infinitivo com "elevação do sujeito"

    as crianças são capazes de se magoar

    Infinitivo "prospectivo"

    tenho várias cartas a escrever.

    ainda tenho muitas coisas a fazer antes de me ir deitar

    hoje ele tem muitos assuntos a tratar

  15. Ênfase com ser (associado ao que chamei as perífrases verbais)

    tu podes é escrever o artigo para a próxima edição

    ele sabe é estragar a vida dos outros

    ele começou foi a gritar

    ele estava era a ler o livro errado

    nós temos é que começar pelo princípio

Critérios em relação ao uso de infinitivo pessoal

Uso de infinitivo pessoal em orações coordenadas

Podes acabar com isso e seres um bocadinho mais simpático?

Sabes do que gosto mais? Lermos ao mesmo tempo.

Sabes fingir muito bem, mas enganares-me não.

Uso do infinitivo pessoal com diferentes sujeitos

Para darmos uma boa festa, tens de te empenhar.

Para ele entrar, a Joana teve de pedir autorização ao chefe.

Ordem dos constituintes envolvendo infinitivos

Inversão típica do sujeito quando este é uma oração infinitiva

É preciso chegares a horas.

Inversão do sujeito dentro das orações infinitivas que seguem os verbos declarativos

Suspeito terem os rapazes estragado o jantar, e não a Maria.

Gerúndio

Contextos sintácticos

  1. Gerúndio adverbial sem partícula introdutória

    Descendo a avenida, deparei-me com ele.

    Fui para o quarto, temendo que o meu segredo tivesse sido descoberto.

  2. Gerúndio adverbial com partícula introdutória

    Em comendo, volta logo (= Quando (acabares de) comer)

    Embora fazendo o que lhe mandam, não é um bom empregado.

    Com os preços subindo dia a dia, não sei onde isto vai parar!

  3. Gerúndio coordenado (Ordem icónica)

    entrou em casa, tirou os sapatos e, arrumando-os na entrada, chamou: (= arrumou-os e)

    passou pela Av. da República, prosseguiu até ao Campo Grande, virando para a 2.a circular. (= e virou para)

    Entrando em casa, deparou-se-lhe o seguinte espectáculo: (= Entrou em casa e )

  4. Gerúndio adjectivo

    Chegou o Dr. X, respondendo pela pasta das Finanças.

    Os carros formando um estranho cortejo aproximaram-se.

    A casa, dispondo de duas casas de banho e duma vista fantástica, não foi difícil de vender.

    Esse filme retrata um caso verídico envolvendo o primeiro-ministro americano.

  5. Gerúndio narrativo

    A luz jorrando pelas janelas.

  6. Gerúndio interrogativo

    Ah Ah! Lendo em vez de trabalhar?

  7. Gerúndio exclamativo

    E nós desperdiçando esta oportunidade! (Bras.)

Funções de uma oração gerundiva adverbial

  1. Modo de acção (no Brasil, "modal"):

    Ela suspirou, encolhendo os ombros.

    Roberto: (Entrando.) Ora viva!

    Voltando-se para a mulher: -- Não achas?

  2. Condicional:

    Fazendo a cadeira este semestre, podes seguir o tal curso. (= se fizeres a cadeira...)

    caso especial (com )

    Só vendo se acredita! (= só se vires)

    À hora a que sais, só apanhando um táxi é que lá chegas a tempo! (só se apanhares um táxi...)

  3. Concessiva:

    Sendo amigo dela, não deixo de lhe criticar o seu modo de proceder

    Tendo embora várias ocupações, o Rogério é uma pessoa disponível.

    Embora correndo pelo Benfica, o Zé nunca esqueceu os seus tempos do CACO.

  4. caso especial (com não ou nem)

    Nem pagando a gasolina eu te levo no meu carro.

    Não desfazendo, a Maria Antónia está uma beleza!

    Não tendo sequer boa voz, a presença dela no palco é empolgante.

  5. Causal (exprimindo a causa):

    Julgando o caso esquecido, ela veio ter comigo. (= porque julgava)

    Não conseguindo sair do elevador, ele carregou no botão de alarme (= porque não conseguia)

    A multidão começou a dispersar, prevendo tumulto. (= porque previa tumulto)

  6. Consecutiva (exprimindo o resultado):

    Fechei a porta da cozinha, deixando-a nos seus domínios. (de sorte que a deixei)

    A tempestade viera, fazendo as árvores vergar. (de sorte que fez...)

  7. Temporal: simultaneidade

    Vendo a porta fechada, o Vicente fez um gesto de desânimo. (= ao ver a porta fechada)

    Uma vez, passando por casa dela, lembrei-me do irmão. (= ao passar por casa dela)

    Olhando para trás, viu-lhe os polícias no encalço. (= ao olhar para trás)

Algumas perífrases envolvendo o gerúndio

Opcionalmente, em português de Portugal, (praticamente) todas as que usam normalmente a + infinitivo.

Obrigatoriamente, em português de Portugal

  • ir fazendo

    denota gradualidade, dispersão no tempo

    Ele ia espalhando o conforto por onde passava.

    O sol ia aquecendo a cabana

    Ele ia enchendo o mealheiro à custa das semanada poupadas.

    Ele foi fazendo amigos por aqui e por ali, até se tornar o homem mais elegível do partido.

    Tinha ido escrevendo tudo o que se passava ao longo dos vários anos que ali morara, e agora o livro tornara-se uma revelação.

    Cá vamos indo!

    Vai andando, que eu já vou.

    Olha, vai pondo as batatas ao lume, está bem?

  • ia acontecendo (verbo ir no Imperfeito)

    denota iminência de um perigo que não aconteceu (=quase que)

    Ups! Não vi a trave. Ia caindo!

    Ele ia chumbando. Sabia tão pouco do assunto, que não sei como conseguiu passar.

    O João ia morrendo, com o susto que apanhou!

    Íamo-nos esquecendo da hora! Depressa, o filme começa às sete!

    Eles iam-se tramando! Se não fosse o pai chegar naquela altura e interromper a conversa...

    Ias-te espalhando ao comprido! Felizmente que te lembraste da resposta certa!

Particípio passado

Contextos sintácticos

O particípio passado é usado em português:

  • Nas formas ter + particípio passado (exceptuando o PPC), que denotam anterioridade em relação ao ponto de referência.

    Eu tinha comprado o bilhete com antecedência.

  • No pretérito perfeito composto (PPC), que denota repetição com acontecimentos, e continuação com estados, num intervalo até agora.

    Eu tenho tido muita sorte.

  • Na passiva com ser, estar, ficar, que identifica um resultado.

    Fiquei espantada com a reacção dela.

    Os espectadores foram agredidos com insultos e impropérios.

    Ela estava escondida atrás da casa.

  • Na forma ter, trazer, levar + sintagma nominal + particípio passado, que descreve um estado:

    Tinha os olhos inchados de tanto chorar.

    Levava o cabelo puxado para cima e o casaco enrolado à cintura.

    Trazia as mãos caídas e a mochila pendurada só dum ombro.

    Já tenho a loiça lavada.

  • Na construção absoluta (ou oração subordinada participial), que pode ser adjectiva ou adverbial:

    As folhas caídas foram levadas pelo jardineiro.

    Caídas as folhas, a árvore dava-me um sentimento de desolação.

    Descobertos os erros, o Ministério ordenou uma nova prova.

    «Os Lusíadas», escritos no século XVI, têm sido usados como fonte de inspiração do imaginário português.


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