Esse site foi feito sobretudo para treinar a compreensão oral dos alunos de português. Nós recomendamos o site http://www.linguateca.pt/Diana/download/portugisisk.html  para toda questão sobre gramática que vocês possivelmente venham a ter.

 Aspectos básicos da língua:

O artigo

  • homónimo com pronomes pessoais no acusativo (o, a os, as) e com pronomes indefinidos (um, uma, uns, umas)
  • o plural do artigo indefinido deve-se aos casos de palavras semanticamente singulares mas morfologicamente plurais, tais como óculos, calças, calções, collants etc.
  • o uso do artigo depende sobretudo de dois factores: função sintáctica do sintagma nominal (sujeitos, quase sempre, complementos de modo ou causa, quase nunca) e da semântica do referente (animado, quase sempre, massivo, menos, abstracto, ainda menos).

Exemplos:

A culpa foi dele. vs. isto aconteceu por culpa dele.

O acaso juntou-os. vs. Encontraram-se por acaso.

Comi arroz de polvo. vs. O arroz de polvo estava óptimo.

Deste dinheiro no peditório? vs. O dinheiro foi mal empregado.

Serviram-me coelho. vs. O coelho estava delicioso!

Isso é mesmo de rapariga! vs. As raparigas é que gostam dessas coisas!

Não tomo banho em água tão fria. vs. A água tem de estar mais quente para eu tomar banho!

Várias expressões sem artigo:

por intermédio de, por sorte, por azar, com certeza, em benefício de, sem dúvida (nenhuma), a favor de, por amor de, com raiva, por favor, a meu favor, a meu pedido, por engano

O substantivo

  • em relação ao género, há três tipos
    1. género natural: faz parte do significado da palavra o sexo feminino ou masculino. Exemplos: mulher, homem, vaca, boi, cadela, avó, mãe, pai, filho, irmã, marido, sogra, genro, nora, neto, neta, leoa, gato, gata, enfermeiro, enfermeira, médico, médica, professor, professora, aluno, aluna, locutora, engenheira, actor, actriz, ré, réu
    2. género intrínseco, mas arbitrário: camisa, armário, estante, felicidade, raiva, desespero, girafa, hipopótamo (quando são seres sexuados, para distinguir o sexo diz-se girafa macho, girafa fêmea, hipopótamo macho, hipopótamo fêmea), pessoa, criança, testemunha, indivíduo, personagem, visita, vítima
    3. sem género (ou género indeterminado): estudante, presidente, artista, fadista, arguente, doente, intérprete, paraquedista, amante, agente, contribuinte, pedinte.

O adjectivo

Contextos sintácticos em que os adjectivos se podem encontrar

  1. posição atributiva, pós-nominal

    dia lindo, cão dócil, mar azul

  2. posição atributiva, pré-nominal

    triste destino, novo professor, pobre mulher

  3. posição predicativa (nome predicativo do sujeito)
    • com verbos de cópula

      ele está velho

      a mesa é resistente

      ele anda distraído

    • com verbos de resultado ou de permanência

      o engano resultou divertido

      o plano saiu gorado

      o Manuel saiu calado

      ele ficou triste / sentado

      ela permaneceu calada

      eles continuaram cegos

      ele manteve-se escondido/alegre durante toda a noite

    • com verbos de aparência

      ela pareceu-me bonita

      ela deparou-se-me vazia/despida/inútil

      ela deu-me a impressão de inteligente

      ela é tida por muito esperta

  4. posição predicativa (nome predicativo do objecto)
    • com verbos de percepção

      vi-o feliz/ sentado/ cansado/ decepcionado

      senti-o triste

      ouvi-o desencantado

      imaginei-o feroz/deitado/barbudo

      suspeitei-o sentido/magoado

    • com verbos cognitivos

      achei-a gorda

      considerei-a estúpida/perdida

      tomei-a por principiante

    • com verbos de posse

      tinha os cabelos encaracolados, os olhos tristes, e a cara vermelha

      levava a mão levantada

      trazia as mãos sujas

      os pés trazia-os vermelhos

  5. posição de aposto (ou atributiva explicativa)

    alegres, os rapazes prepararam-se para a expedição

    os rapazes, alegres, prepararam-se para a expedição

    os rapazes prepararam-se, alegres, para a expedição

    os rapazes prepararam-se para a expedição, alegres por terem uma tal oportunidade.

    voltaram cansados

    admiradas, elas não sabiam que dizer.

  6. uso do adjectivo como advérbio

    faz isso rápido

    falar alto/baixo/baixinho

Questões de posicionamento do adjectivo atributivo

Quando um dado adjectivo se pode encontrar na posição A1 e A2 (antes e depois do nome), há diferenças entre os dois tipos de modificação adjectival em português.

De forma simplificada, a posição anterior ao substantivo (A1) descreve uma propriedade relacionada com o substantivo, enquanto que a posição a seguir ao substantivo (A2) descreve uma propriedade objectiva do substantivo.

De N A2 pode concluir-se que é N e é A2 (de A Maria é uma criada antiga pode concluir-se que a Maria é uma criada e que a Maria é antiga (já está há muito tempo no lugar))

De A1 N não se pode (de A Maria é uma antiga criada não se pode concluir que a Maria ainda é uma criada nem que é "antiga")

Existem casos em que podemos falar de N A1 (em alguns casos, marcados abaixo com asterisco, a posição posterior também pode ser tomada pelo adjectivo A1, o que significa que o adjectivo, apesar de na posição A2, pode tomar o sentido típico de A1 tem dois).

A nova professora - a professora nova *

O bom aluno - o aluno bom *

o mau aluno - o aluno mau *

um bom amigo - um amigo bom

um bom irmão - um irmão bom *

um pobre homem - um homem pobre

um rico casamento - um casamento rico

um belo rapaz - um rapaz belo

um pequeno contratempo

uma grande mulher - uma mulher grande

uma pequena víbora - uma víbora pequena

uma antiga mesa - uma mesa antiga

a antiga casa - a casa antiga

Noutros casos, em que um adjectivo positivo é anteposto, traduz muitas vezes ironia, sobretudo quando modifica nomes aos quais objectivamente não se pode referir

um bom disparate

um lindo comportamento

um bonito destino

um belo governo

Às vezes, a posição anterior sublinha o resultado

uma boa ideia - uma ideia boa

uma má ideia - uma ideia má

uma péssima ideia

um triste casamento

um triste fim

uma boa noite - uma noite boa

Em alguns outros casos, o adjectivo na posição anterior tem um significado adverbial, que difere do significado da posição A2

um verdadeiro norueguês - um norueguês verdadeiro

um simples jantar - um jantar simples

um simples alentejano - um alentejano simples

ou seja, pode-se parafrasear as frases como

é verdadeiramente norueguês

foi simplemente um jantar

é apenas um alentejano

Tipos de adjectivos

Os adjectivos podem dividir-se em várias categorias, conforme o seu comportamento sintáctico-semântico:
  • plenos (lindo, triste, azul, luminoso, etc.)
  • adjectivos-nomes (jovem, amigo, impostor, perturbador, etc.)

    O jovem escritor não foi convidado.

    E quem é esta jovem?

    O seu pai ainda é muito jovem.

    Ele é muito amigo da minha filha.

    O João é um velho amigo da família.

    Saramago é um escritor comunista.

    Os comunistas têm grande respeito pelos órgãos directivos do seu partido.

  • pseudo-adjectivos (polar, social, rural, mecânico, etc.)

    estrela polar (=do pólo), engenheiro mecânico (= de Mecânica), economia rural (=do campo), segurança social (=da sociedade), polícia municipal (=da cidade)

  • adjectivos particípios passados de verbos que exprimem um resultado
    • verbos transitivos (o nome é o paciente/objecto da acção)

      A soma oferecida era elevadíssima (= que tinha sido/ que era / que foi)

      O livro estragado era o meu (= que foi/ que estava/ que tinha sido)

      O fruto proibido é o mais apetecido (= que foi/ que é/ que está)

    • verbos intransitivos ou reflexos (o nome é o agente/sujeito da acção)

      Varre as folhas caídas (= que estão/ que cairam)

      A família acampada ali não obedece às normas do parque (=que está / que acampou)

      Os barcos fundeados naquele porto são petroleiros (=que estão / que fundearam)

      A rapariga deitada é minha irmã (= que está / que se deitou)

      A empresa falida despediu os funcionários (= que está / que faliu)

  • adjectivos particípios passados de verbos que exprimem uma acção sem resultado
    • correspondem a verbos cuja ordem normal é a inversão

      os acontecimentos ocorridos no passado domingo são preocupantes (= que aconteceram)

      O desastre acontecido, os problemas surgidos

    • correspondem a uma quantificação adverbial

      ele é muito viajado (= ele viajou muito)

      depois de bem comido e dormido, preparou-se para partir. (= ele comeu e dormiu bem)

      a Joana é muito dada, mas o irmão é terrivelmente mexido. (= dá-se muito; mexe-se muito)

      a minha prima é uma mulher vivida, e o marido é muito sabido. (= viveu muito; sabe muito)

      Nota: como seria de esperar, adjectivos particípios passados de verbos simultaneamente transitivos e intransitivos aceitam as duas interpretações

      A Joana, admirada, não soube o que responder.

      O cientista, admirado e respeitado, tormou-se um símbolo nacional.

      A criança deu a resposta enganada.

      Os turistas enganados queixaram-se à polícia.

      (note-se a correlação entre a passiva com estar e com ser

      estás enganada, temos de descer e virar à direita.

      Foste enganada, essas pérolas são de plástico!)

  • adjectivos que regem orações completivas ou infinitivas

    a revolução é provável que rebente em breve.

    a porta é preciso que a abram por dentro.

    os tiros é possível que façam render o velho ditador.

    estas fotografias não é necessário destruir.

    a minha prima é sabido que não estuda. (= é sabido que a minha prima não estuda)

    Os chineses é conhecido que apreciam arroz. (=é conhecido que os chineses ...)

  • adjectivos que aceitam elevação de objecto

    estas obras são difíceis de ler.

    estes manuscritos são passíveis de ser vendidos.

    estas paisagens são agradáveis de olhar.

    estes sapatos são óptimos de vender.

  • adjectivos que aceitam elevação de sujeito

    os miúdos são capazes de cair.

    vocês são livres de sair.

    os alunos estão livres de terem um novo exame amanhã.

    os guerrilheiros são capazes de atingir a cidade.

    ela é capaz de chumbar no exame.

Finalmente, existem algumas palavras que funcionam como determinantes mas que são homónimas de adjectivos:

um certo homem

um determinado homem

Pronomes

Pronomes pessoais

Uso do nominativo

ele, ela, eles, elas (como sujeito) em português europeu está restrito a pessoas e/ou animais

A mesa é antiga. Foi comprada num antiquário. (e não ela foi comprada)

Mas ele, ela, eles, elas usam-se depois de preposição:

A mesa estava ali. O João bateu nela e caiu.

O lago é muito fundo. O João caiu nele e ia morrendo.

O precipício é assustador. O João olhou para ele e ficou com vertigens.

Este canivete é do João. Ele não vai a parte nenhuma sem ele.

Posição dos clíticos (pronomes pessoais átonos) em português de Portugal

Posição depois do verbo: ênclise; posição antes do verbo: próclise; entre o radical e a terminação de futuro ou condicional: mesóclise.

  1. Logo depois do (primeiro) verbo, ligados por um hífen

    Deu-me um livro.

    Tem-me dado um livro todos os dias.

    Estava-me a dar a um livro (ou estava a dar-me um livro)

    Ia-me lendo um livro enquanto trabalhava na camisola.

    Este livro foi-me dado pelo meu pai.

    Esta cama tinha-me sido dada pelo meu pai.

  2. No meio do verbo, nos tempos futuro e condicional

    dar-me-ás, falar-te-ia, doer-vos-ão

  3. Logo antes do verbo
    • em orações negativas (e portanto, entre o advérbio de negação e o verbo)

      não me lembro,

      nunca lhe dei

      nada te preocupa

    • em orações interrogativas (excepto perguntas sim/não)

      Quem é que o viu?

      A quem é que o João o deu?

      O que é que o João nunca te deu?

      Porque é que não te vi? ou (mais raro) Porque é que te não vi?

    • em orações que contenham os seguintes advérbios antes do verbo:

      ainda, já, sempre, talvez, também, só, somente.

      Ainda o conheço. vs. Conheço-o ainda.

      ? Sempre o fizeste. vs. Fizeste-o sempre. (posição anterior muito rara)

      Também a vi. vs. Vi-a também.

      Já o sabes. vs. Tu sabe-lo já.

      Talvez se arrependa. vs. Conheço-o talvez da escola.

      Só a Joana o viu. A Joana só o viu quando... vs. A Joana viu-o só quando...

    • em orações subordinadas
    • em orações relativas
    • em orações cujo sujeito é um pronome indefinido (excepto um)

      Muito se cansou ele.

      Pouco o admiraram.

      Todos me decepcionaram.

      Alguém o viu.

      Tudo se desmoronou.

      Ambos se portaram mal.

    • em algumas frases com o objecto directo anteposto (raro)

      Uma coisa te peço

    • em orações infinitivas iniciadas por preposição (excepto a)

      para nos ver, sem nos dizer nada, (saber) como te encontrar, (desisti) de os convidar, antes de os vermos, sem os avisares

      mas Ao levantar-se, A vê-los

  4. Em alguns (muito poucos) casos as duas posições são possíveis
    • quando os verbos que regem são semi-auxiliares, ou seja, os complementos são verbos no infinitivo sem preposição:

      pode levantar-se / pode-se levantar

      querem ver-nos / querem-nos ver

      deves ter-te enganado / deves-te ter enganado

    • ou na forma a + infinitivo

      começou a chatear-se / começou-se a chatear

      estava a ver-te / estava-te a ver

    Contudo, segundo os manuais de estilo, é sempre preferível usar o clítico após o verbo principal na língua escrita (ou seja, a primeira forma na lista anterior).

Em português do Brasil,

  • usa-se muito menos pronomes átonos, sobretudo na 3.a pessoa

    usando-se o nominativo ou a forma após a preposição:

    ele deu isso a ela

    eu ajudei ela

  • O hífen não é usado:

    Podem se levantar problemas...

  • No imperativo, o pronome pessoal é anteposto:

    Me dê isso

  • É possível colocar o pronome entre o sujeito e o verbo mesmo em frases afirmativas:

    Eu me lavo

  • Não há mesóclise:

    Eu me lavarei, Ele prometeria a você

  • Quando em português de Portugal haveria dois clíticos, no português do Brasil não se contraem, e por isso um deles passaria obrigatoriamente a outra forma

    Deu-mo -> Ele Ele me deu isso

    ou poderia ser mesmo omitido

    Deu-lha -> Ele deu a ela (também possível Ele (o) deu para ela)

  • Com verbos auxiliares ou semi-auxiliares, a posição normal do clítico é entre o auxiliar e o verbo principal, haja ou não negação ou advérbios anteriores ao verbo:

    Ele tem me encontrado

    Já tinham me visto.

    Não queria se afastar

    Todos tinham se afastado.

Pronomes possessivos

O uso do artigo é o mesmo que noutros sintagmas nominais, ou seja, quase sempre no sujeito, poucas vezes depois de preposições:

por minha ordem, em meu nome, para seu proveito, sem nosso conhecimento

nunca no vocativo:

Meus filhos, minhas senhoras e meus senhores

Quando o artigo é indefinido, o lugar normal do pronome possessivo é depois do nome:

um amigo meu, uma aluna minha, um problema teu, um livro vosso, umas primas nossas, ou seja, um dos meus amigos, uma das minhas alunas, etc.

quando o pronome é dele, dela, deles, delas, essa posição é obrigatória

Quando os pronomes são usados de forma predicativa, há oposição entre o uso ou não do artigo definido

estes livros são meus

ests livros são os meus (esta é a propriedade relevante destes livros por oposição a outros)

cf. These books are mine vs. These are my books.

A diferença entre seu e dele/dela/deles/delas, além de flexionarem conforme a coisa possuída e o possuidor respectivamente (os seus carros mas os carros dela), é semelhante à diferença entre os pronomes reflexos e os não reflexos: seu indica que é o mesmo que o sujeito, dele não. Assim,

O João trouxe o seu carro (tem de ser o carro do João -- ou seu refere-se ao interlocutor, como indicado a seguir)

O João trouxe o carro dele (pode ser do João, ou doutro "ele" de quem se esteja a falar)

Seu está a cair em desuso como possessivo reflexivo, porque é usado também (e sobretudo) como pronome de delicadeza (3.a pessoa, sujeito você)

Você trouxe os seus filhos?

O senhor importa-se de tirar o seu guarda-chuva daqui?

Existe um uso específico do pronomes possessivo seu, sua, seus, suas, que significa "uma certa"/alguma/ aproximadamente, ou seja é uma forma de tornar menos definida / menos directa uma dada afirmação.

Faz a sua diferença. (=Faz alguma diferença)

Terá os seus três metros. (=Deve ter por volta de três metros)

A obra tem os seus defeitos. (= A obra tem alguns defeitos)

Pronomes demonstrativos

Fora de uma situação de diálogo, aquele usa-se muito raramente, apenas para contrastar com este numa enumeração. O mundo ocidental e o islâmico assemelham-se em várias coisas: enquanto aquele ..., este ...

Este e esse contrastam, no discurso escrito, em relação à proximidade e/ou distância em que o autor se pretende colocar: essa teoria é perigosa; esta teoria é muito interessante.

O uso de esse é muito mais comum no Brasil.

Pronomes relativos

Que é o mais usado, porque serve para as posições de sujeito e objecto da oração relativa:

Este é o rapaz que salvou a criança.

Este é o rapaz que conheci ontem.

Para objecto indirecto ou objecto de preposição, há duas distinções que são relevantes:

- se é pessoa ou coisa (usa-se quem só para pessoas; que só para coisas; o (a) qual os (as) quais para ambos)

- e se é oração relativa restritiva ou explicativa (que usa-se só nas orações restritivas, o (a) qual, os (as) quais só nas explicativas; quem em ambas)

Vejamos pois orações relativas restritivas (ou seja, aquelas em que a oração relativa é necessária, porque restringe, e co-define, o sintagma nominal de que faz parte)

Para objecto indirecto usa-se a quem

Este é o rapaz a quem deste um livro.

O homem a quem ofereci emprego aceitou logo.

ou a que conforme a entidade for uma pessoa ou uma coisa

Este é o livro a que deram o prémio.

A tinta a que juntaste o verniz ficou óptima.

Objecto de preposição (linguagem cuidada):

O homem com quem almoçaste ontem é o meu marido.

O problema com que te debates já foi descrito antes

O assunto sobre que falámos ontem não deve ser abordado aqui

A tendência contra que luto é a da publicidade irresponsável.

O homem contra quem me declarei é membro do partido nazi.

A empresa para que trabalhamos não permite esse procedimento.

A professora para quem mandaste a carta já se reformou.

O cano por que escorre a água da chuva tem de ser reparado.

Esse foi o amigo por quem perdeu a fortuna.

O jardim em que a conheceste vai desaparecer

O político em quem mais confiava desapontou-me

O livro de que tiraste essa citação devia estar errado.

O rapaz de quem gostas está ali.

Que só não pode ser usado

  • após as preposições sem e sob, que exigem o (a) qual, os (as) quais,

    A ponte sob a qual dormiu tinha pouco trânsito

    A televisão é uma companhia sem a qual não posso passar.

    X é uma pessoa sem quem a minha vida não valeria a pena ser vivida.

  • após durante, que só pode ser usado em orações explicativas. Para restritivas usa-se em que:

    O período em que estive em Oslo foi dos melhores da minha vida (não durante o qual)

Para lugar, pode usar-se onde, mas é mais comum em que, que aliás é obrigatório para a localização temporal.

A aldeia onde nasci nem vem no mapa ou A aldeia em que nasci...

O ano em que nasci foi extraordinário para os meus pais.

Quando ao lugar está associado movimento, onde com a correspondente preposição é usado quer em relativas restritivas quer explicativas

A planta donde vem o algodão

O lugar aonde vão ter todos os caminhos

A cidade para onde foram é lindíssima.

Coimbra, para onde foram, não os desapontou.

Quando as orações relativas são explicativas, ou seja, podem ser omitidas sem perda de sentido para a oração principal, o (a) qual e os (as) quais podem ser sempre usados, mas quem também é possível para pessoas

Este livro, contra o qual vários escritores já protestaram, ridiculariza o meio literário.

O jardim da Estrela, no qual se realizam as sessões experimentais de cinema, está fechado esta semana.

A Maria, com a qual me dou lindamente, já disse que sim.

O Ricardo, pelo qual tenho a maior estima, asseverou-me que não.

A guerra, durante a qual muitas amizades foram postas à prova, foi uma época tremenda.

A pílula, sobre a qual tanto foi escrito nos anos 60, é agora um assunto pacífico.

A sociedade socialista, pela qual X lutava, não chegou ainda.

O testamento dele, do qual só me falaram ontem, altera tudo.

Quando a oração relativa, além de referir, ainda quantifica, ou seja, o sintagma nominal refere-se a uma entidade plural, que vai ser especificada através de quantificadores, os (as) quais têm de ser usados

alguns dos quais, duas das quais, a maioria dos quais, nenhum dos quais

Se a relação entre o nome e a oração relativa tem nome, pode usar-se cujo, ainda que este pronome esteja a cair em desuso

O homem cujos pais foram presos, O gato cujo dono o abandonou, A rapariga cuja vizinha a ameaçou, O rapaz cujo cão foi atropelado, A médica cujos doentes fugiram são normalmente descritos como O homem de quem os pais foram presos, O gato que foi abandonado pelo dono, A rapariga que foi ameaçada pela vizinha, O rapaz que tinha um cão que foi atropelado, A médica de quem os doentes fugiram...

Finalmente, com um pequeno número de nomes denotando forma, como é usado como pronome relativo, sempre em orações relativas restritivas:

A maneira como ela fez aquilo ainda hoje me admira.

A forma como ela se escapou não foi muito elegante.

O modo como se despediu não deixa dúvidas.

O modo como te portaste não tem desculpa.

Pronomes interrogativos

Há dois tipos de interrogações em português: um que pede informação sobre uma dada entidade, outro sobre participantes ou características de uma dada acção. Por outras palavras, podem fazer-se perguntas sobre coisas, ou acontecimentos.

As perguntas sobre coisas referem-se normalmente à escolha entre elementos de um dado conjunto.

  • que pede uma especificação dentro de um dado conjunto aberto, e é precedido pelas preposições relevantes:

    Que livros preferes?

    Que camisa puseste ontem?

    De que fruta gostas mais?

    Com que amiga tua estiveste ontem à noite?

    Contra que partidos pretende lutar?

  • qual pressupõe um conjunto fechado (de Ns, que são referidos quer por qual de N ou qual é o N que):

    De qual dos teus primos és mais amiga?

    Qual é a fruta de que gostas mais?

    Com qual das tuas amigas vais ao cinema?

    A qual dos teus alunos deste o recado?

    Qual dos teus professores foi mais importante para ti?

    Quais dos teus artigos sugeres que eu leia?

  • quanto pede informação quanto ao número

    Quantos irmãos tens?

    Quanta água leva este tanque?

  • quão pede informação quanto à intensidade, mas está a cair em desuso

    Quão sincero é ele? mas mais frequentemente Ele é sincero?

    Quão desinteressadas são as suas intenções? ou As suas intenções são desinteressadas?

O outro grupo pede informação sobre uma acção (ou estado). Além de confirmar a sua existência/ocorrência, através de perguntas sim/não (cuja resposta, a propósito, nunca é sim, mas o verbo na pessoa e tempo respectivos), pode perguntar quais os participantes, lugar e tempo, e ainda outro tipo de informação opcional, tal como causa ou modo.

A pergunta pode procurar algo indefinido

Que estás a fazer?

Que é que queres?

mas, muito mais frequentemente, diz respeito a participantes definidos

Quem (é que) roubou o meu relógio?

O que é que provocou a catástrofe?

O que é que o Pedro fez?

A quem é que o Manuel deu o livro?

Com quem é que tomou café?

Com que é que ele te bateu?

Contra quem é que o Miguel esbarrou?

Contra o que é que o Júlio se despistou?

Onde é que nasceste?

Por onde é que o gato se escapou?

Para onde é que vocês vão?

Donde é que ele é?

Quando é que o David saiu?

Como (é que) é o filme?

Como é que o gato conseguiu passar?

De quem é este relógio?

Porque é que fizeste isso?

Nos pronomes interrogativos sobre entidades, também se pode perguntar sobre a extensão de uma dada actividade ou repetição de um dado acontecimento:

Quanto tempo dormiste?

Quantos quilómetros andaste?

Quantas páginas leste?

Quantas vezes viste esse filme?

Quantos almoços fizeste?

É importante reparar que as mesmas palavras (que, o que, quem, onde, como, para que(m), com que(m), etc.) são usadas para pronomes relativos e pronomes interrogativos. Em ambos os casos, elas apenas representam uma entidade não especificada (desconhecida nas perguntas, já especificada pelo nome nas orações relativas).

Isto é sobremaneira visível num tipo especial de orações, iniciadas precisamente por estes mesmos pronomes, e cujo sentido é exactamente definir entidades através de propriedades, sem fixar a referência. Essas entidades têm o tipo (genérico) que o pronome indica, ou seja, quem indica pessoas, que coisas, quando tempos, onde lugares, como maneiras.

Conforme o tempo for futuro do conjuntivo, presente, ou passado, essas orações funcionam como um pronome indefinido, uma regra, ou apenas uma descrição não referencial.

No futuro do conjuntivo, descrevem o que em inglês levaria o sufixo -ever

Podem chamar quem quiserem

Podem fazer o que quiserem

O que sair no jornal sobre a Noruega vai estar errado de certeza.

Sou contra o que vocês votarem

Veste-te como gostares mais.

Vem quando quiseres.

Senta-te onde estiver mais limpo.

Não se esqueçam de me informar sobre o que vocês decidirem.

Toma quantos te apetecerem.

No presente, representam uma regularidade, uma regra, aplicável a todos os casos, presentes e futuros, descritíveis por essa oração

Quem cala consente

O que eu gosto mais é cantar.

Não acredito no que o João diz.

Ela cozinha como eu gosto.

Por outro lado, o seu uso no passado pode indicar desconhecimento

Viste quem trouxe o cão para aqui?

Quem não fez o trabalho vai ter de haver-se comigo.

Não vi o que te aconteceu.

Acho que sei o que estás a pensar.

Isso é o que leva muitas gramáticas a considerar estes casos como pertencendo à classe das orações interrogativas indirectas:

Perguntei-lhe quem (é que) era o chefe.

Não sei o que é que ele fez.

Pergunto-me como o conseguiu.

Mas, em muitos casos, esta estrutura é apenas a maneira mais económica de especificar co-referência, caso em que são por vezes descritos como pronomes demonstrativos nas gramáticas (note-se que o que é substituível por aquele /aquilo que)

Ela lavou o que eu pus no cesto.

Telefonaste quando chegaste.

Senta-te onde pus as almofadas.

Neste hotel há muitos empregados. O que trouxe a chave vai ali.

Estas freiras são esquisitas. Só gosto da que veio ontem.

Os que fizeram a partida que se acusem/são aqueles

Fez quanto pôde para evitar a sua partida.

Pronomes indefinidos

As palavras que tradicionalmente são classificadas como pronomes indefinidos podem dividir-se em verdadeiros indefinidos, tais como

alguém, ninguém, algo, nada, alguma coisa, qualquer coisa

ou em não especificados (apenas a quantidade é mencionada)

todos, muitos, poucos, nenhuns, alguns, uns

ou simplesmente referindo entidades anteriormente mencionadas no discurso, como ambos, os cinco, e o grupo anterior. Por ex.

Não digas que nenhum teu amigo veio. Muitos vieram, mas tiveram de se ir embora porque não havia lugar.

Os múltiplos usos do pronome "se"

se inerente

Alguns verbos são conjugados obrigatoriamente na forma reflexa; são os chamados vebos pronominais, tais como: queixar-se (de), ater-se (a), lembrar-se (de), esquecer-se (de), avir-se (com), zangar-se (com), ir-se embora.

Ele está sempre a queixar-se da comida.

Ela zangou-se com o irmão.

se reflexo

lavar-se, matar-se, ver-se ao espelho, vestir-se, deslocar-se, cansar-se.

Neste conjunto podemos incluir os verbos de "início de posição", tais como sentar-se, deitar-se, levantar-se, acocorar-se, encostar-se, agachar-se, ajoelhar-se, estender-se, etc.. Embora o uso reflexivo seja de longe o mais comum, têm também um uso transitivo:

Ele encostou a escada à porta

A miúda sentou a boneca na escada

Em alguns casos, há uma certa diferença entre o verbo conjugado reflexivamente e o verbo transitivo correspondente, como é o caso de despachar / despachar-se, mostrar / mostrar-se.

Outras vezes é apenas raro o uso reflexivo por razões semânticas e/ou pragmáticas:

Ele deu-se um pequeno prazer

Ele concedeu-se um descanso merecido

se recíproco

Neste caso (sempre com um sujeito plural), o sentido é recíproco, ou seja "se" corresponde a um ao outro, um com o outro, etc. Não é possível por critérios lexico-sintácticos destrinçar o uso reflexivo do uso recíproco. É no entanto em geral claro do contexto.

Eles bateram-se outra vez. Não se mataram por pouco. Há quanto tempo é que se zangaram?

Quando se encontraram, não se reconheceram.

Apesar de ser o caso mais comum, o uso recíproco de "se" não se limita a dois participantes

Os deputados reuniram-se de emergência.

As equipas saudaram-se (mutuamente).

Os quatro abraçaram-se.

se nominativo (sujeito indeterminado)

"se" usa-se como sujeito, quando o sujeito não é relevante (norueguês "man")

Vende-se casas

Fala-se português

Dá-se explicações

Não se sabe como é que a civilização maia desapareceu.

Nos primeiros estádios não se dá pela doença.

Vê-se logo que nunca saíste de cá.

se passivo

Uma construção bastante semelhante é a do uso de "se" para dar mais ênfase ao objecto, que pode ser anteposto e concorda com o verbo, dando pois origem a uma forma de passiva com "se" (semelhante à "s-passiv" norueguesa):

Os livros compraram-se ontem. (= os livros foram comprados)

Guardaram-se os livros nas estantes. (= foram guardados)

Fazem-se encadernações (= são feitas)

Propostas aceitam-se. (= são aceites)

se ergativo (também chamado anticausativo)

O "se" usa-se também frequentemente em casos em que um resultado é obtido sem intenção, ou seja em que existe uma versão transitiva do verbo em que o agente (sujeito) causa um determinado resultado ao paciente (objecto). A construção com "se" descreve apenas o resultado, dando a entender que não houve um agente para esse resultado.

O cruzador afundou-se perto da costa.

A comida estragou-se.

O copo partiu-se.

O João enganou-se na rua.

Ela atrapalhou-se com a pergunta inesperada.

Eles chatearam-se horrivelmente.

O bolo desfez-se na viagem.

Os botões espalharam-se pelo chão.

De notar que existem outros verbos em que a mesma alternância se encontra em relação a verbos transitivos e transitivos:

A manteiga derreteu.

A água gelou.

A sopa arrefeceu.

Nestes casos, o verbo transitivo parece significar apenas fazer (verbo intransitivo), isto é, derreter = fazer derreter, gelar = fazer gelar, etc.)

Outros

Finalmente, existem alguns usos de "se" que não se enquadram facilmente em nenhuma das categorias acima, exemplificados por:

  • uma coisa acabar-se (deixou de haver, acabou para sempre vs. chegar ao fim),
  • rir-se vs. rir (acontecimento demarcado vs. actividade),
  • roçar-se por vs. roçar por (voluntário vs. involuntário).

This free website was made using Yola.

No HTML skills required. Build your website in minutes.

Go to www.yola.com and sign up today!

Make a free website with Yola